Saturday, January 05, 2008

A Filha de Gil

O grito fez desaparecer as imagens do que parecia ser o sono intranquilo da mulher, que só teve tempo de encontrar a toalha e correr ao quarto da filha. Os corredores escuros da casa envolviam a mulher que logo fez-se mulher na eterna madrugada das vontades - tantos gritos ouvíamos -, becos que escondem dos curiosos visitantes o interior, o desaconchegante interior da família. E trancam-se... Ela ouve o grito e acorda. O grito passeia pela mulher, chega ao banheiro onde dorme um corpo de pele enrugada e ainda só, ainda assim. Faz-se ouvir.


No quarto da menina alguém escapa pela janela e larga na pequena cama em formato de coração um punhal, lápis dos muros da menina. A menina corre para a mãe, abraça a mãe, chora.

- Ele?

Gil apanhou o punhal e seguiu pela estrada.

Chegou pelos fundos da casa e foi com terror que viu o homem no quintal, despido em carne ainda morta, desenho que virtua-se em espiral. Ele, ancorado numa árvore, masturbava-se. Ela empunhou a faca e avançou alguns passos, o rosto paralizado como que em transe: "para com isso", e ele chorava, pedia perdão, perdia tempo, o corpo suado que se movimentava lentamente pelo espaço, que umedecia com a ponta da língua os lábios sempre secos, que acariciava o peito. O rosto da menina aparecia no turbilhão das imagens e perfumes, sempre sozinha, delicada e sozinha no escuro beco que de noite era só silêncio... "Para!”

- Escuta Gil, eu não fiz nada com ela.

- Para!

- Eu te amo Gil!

A cólera tomou a mulher, porque esta correu até ele e enfiou-lhe a faca no peito, perfurando-o várias vezes, sentindo o gosto do sangue, e rindo até!, e enfiando a outra mão nos cortes que fazia, procurando, talvez, por algo - são abismos aqui? Desfigurou-lhe todo o corpo, cansou.

Jogou a faca para longe e se preparava para ir. Foi quando olhou para trás e viu que o pênis permanecia ereto. Ajoelhou-se ao lado do corpo e o pôs em sua boca. Chupou-o violentamente, até que o homem gritou.


dezembro de 2006